Apesar de os povos da Terra do Fogo, da Patagônia, terem visitado as Ilhas Falkland em tempos pré-históricos, as ilhas eram desabitadas na época de seu descobrimento pelos europeus. Relatos do descobrimento datam do século 16, mas não há consenso se os antigos exploradores descobriram as Ilhas Falkland ou outras ilhas do Atlântico Sul. A primeira descida documentada nas ilhas é atribuída ao capitão inglês John Strong, que, em rota para o litoral do Peru e Chile em 1690, descobriu a Passagem das Falkland e notou a presença de terra firme próxima.
(Louis Antoine de Bougainville)
As ilhas ficaram desabitadas até 1764, quando foi estabelecido Port Louis na Falkland Oriental pelo capitão francês Louis Antoine de Bougainville, e a fundação em 1766 de Port Edgmont na Ilha Saunders pelo capitão britânico John MacBride. Se as duas colônias sabiam uma da existência da outra, isso é debatido até hoje por historiadores. Em 1766, a França desistiu de sua posse em favor da Espanha, que renomearam a colônia como Puerto Soledad no ano seguinte. Os problemas começaram quando a Espanha descobriu e capturou Port Edgmont em 1770. A guerra foi por pouco evitada por sua restituição à Grã-Bretanha em 1771.
Ambas as colônias coexistiram no arquipélago até 1774, quando as novas considerações econômicas e estratégicas da Grã-Bretanha os levaram a se retirarem das ilhas, deixando uma placa dando a posse a elas em nome do rei George III. O Vice-Reino do Rio da Prata, da Espanha, se tornou a única presença governamental no território. Falkland Ocidental foi abandonada, e Puerto Soledad se tornou nada mais que um campo de prisioneiros. Em meio às invasões britânicas do Rio da Prata durante as Guerras Napoleônicas na Europa, o governador das ilhas evacuou o arquipélago em 1806; as tropas coloniais restantes da Espanha também foram embora em 1811, com exceção de gaúchos e pescadores que permaneceram voluntariamente.
(Luis Vernet)
Dali em diante, o arquipélago foi visitado somente por barcos de pesca; seu status político não estava em disputa até 1820, quando o Coronel David Jewett, um americano trabalhando para as Províncias Unidas do Rio da Prata, informou aos navios ancorados da declaração de posse de Buenos Aires feita em 1816 para que a Espanha fosse a possuidora dos territórios do Atlântico Sul. Uma vez que as ilhas não tinham habitantes permanentes, em 1823 Buenos Aires deu permissão ao mercador alemão Luis Vernet para conduzir atividades e explorar gado selvagem no arquipélago. Vernet se acomodou nas ruínas de Puerto Soledad em 1826, e acumulou recursos nas ilhas até obter êxito na forma de que o local era seguro o suficiente para trazer colonizadores e formar uma colônia permanente. Buenos Aires nomeou Vernet comandante civil e militar das ilhas em 1829, e ele tentou parar as atividades de navios baleeiros e pescadores de focas estrangeiros. A missão de Vernet durou até uma disputa sobre os direitos de pesca e caça liderados por um ataque do navio de guerra americano USS Lexington em 1831, quando o comandante americano Silas Duncan declarou a dissolução do governo das ilhas.
(A Argentina possui Antonio Rivero como um ídolo)
Buenos Aires tentou manter influência na colônia enviando uma tropa, mas um motim em 1832 ocorreu pela chegada das forças britânicas que reconheceram sua posse. A Confederação Argentina (comandada pelo governador de Buenos Aires, Juan Manuel de Rosas) protestou contra as ações britânicas, e os governos da Argentina têm até hoje registrado protestos oficiais contra a Grã-Bretanha. As tropas britânicas partiram após completarem sua missão, deixando a região sem governo formal. O vice de Vernet, o escocês Matthew Brisbane, retornou para as ilhas naquele ano para retomar os negócios, mas seus esforços acabaram após, em meio a um tumulto em Port Louis, o gaúcho Antonio Rivero liderou um grupo de indivíduos insatisfeitos para assassinar Brisbane e os líderes maiores da colônia; os sobreviventes se esconderam em uma caverna em uma ilha próxima até os britânicos retornarem e reestabelecerem a ordem. Em 1840, as Ilhas Falkland se tornaram uma Colônia da Coroa, e os colonizadores escoceses subsequentemente estabeleceram uma comunidade pastoral oficial. Quatro anos depois, quase todos se deslocaram para Port Jackson, considerado um local melhor para o governo, e o mercador Samuel Lafone começou uma missão para encorajar a colonização britânica.
(Casa onde morou e morreu Luis Vernet)
Stanley, como Port Jackson foi logo renomeada, se tornou oficialmente a sede do governo em 1845. No início de sua história, Stanley tinha uma má reputação devido aos naufrágios de navios de carga; somente em emergências paravam ali os navios que estavam dando a volta no Cabo Horn. Entretanto, a localização geográfica das Ilhas Falkland se mostrou ideal para reparos em navios e o “Negócio dos Naufrágios”, o negócio de vender e comprar peças de naufrágio e suas cargas. Além desse comércio, o interesse comercial no arquipélago era mínimo devido ao baixo valor do gado selvagem que corria pelos pastos. O crescimento econômico ocorreu somente após a Falkland Islands Company, que comprou o negócio decadente de Lafone em 1851, com sucesso introduziu nas ilhas ovelhas Cheviot para fazendas de lã, fazendo com que outras fazendas fizessem o mesmo. O alto custo de importar materiais, combinado com a escassa força de trabalho e consequentes altos salários, significaram que o negócio de reparar navios havia se tornado não competitivo. Após 1870, ele decaiu ainda mais com a substituição dos navios a vela por navios a vapor com o baixo custo do carvão na América do Sul; em 1914, com a abertura do Canal do Panamá, o negócio finalmente se encerrou. Em 1881, as Ilhas Falkland se tornaram financeiramente independentes da Grã-Bretanha. Por mais de um século a Falkland Islands Company dominou o comércio e emprego no arquipélago; além do mais, tinha a maior parte das propriedades residenciais em Stanley, que se beneficiou muito do comércio da lã com o Reino Unido.
(A Batalha das Falklands, na Primeira Guerra Mundial)
Na primeira metade do século 20, as Ilhas Falkland tiveram um papel importante nas declarações de posse britânicas nas ilhas subantárticas e em uma seção da Antártica. As Falkland governaram esses territórios como as Dependências das Ilhas Falkland começando em 1908, e foi assim até sua dissolução em 1985. As Ilhas Falkland também tiveram um pequeno papel nas duas guerras mundiais como base militar ajudando no controle do Atlântico Sul. Na Batalha das Ilhas Falkland na Primeira Guerra Mundial em dezembro de 1914, a Marinha Real Britânica derrotou um Esquadrão Imperial alemão. Na Segunda Guerra Mundial, seguindo a Batalha do Rio da Prata de 1939, o navio danificado HMS Exeter foi até as ilhas para reparos. Em 1942, um batalhão a caminho da Índia foi realocado para as Ilhas Falkland como tropa em meio a receios de uma tomada japonesa do arquipélago. Após o término da guerra, a economia das Ilhas Falkland foi afetada pelo declínio do preço da lã e da incerteza política resultante da disputa por soberania revivida entre o Reino Unido e a Argentina.
(A década de 1960 quase viu as Falkland virarem Malvinas)
As tensões entre o Reino Unido e a Argentina aumentaram durante a segunda metade do século, quando o presidente argentino Juan Perón declarou soberania sobre o arquipélago. A disputa pela soberania se intensificou na década de 1960, logo após a ONU emitir uma resolução sobre descolonização, o que a Argentina viu como sendo algo a seu favor. Em 1965, a Assembleia Geral da ONU emitiu a Resolução 2065, chamando ambos os Estados a conduzir negociações bilaterais para chegar a um acordo pacífico da disputa. De 1966 até 1968, o Reino Unido discutiu confidencialmente com a Argentina a transferência das ilhas, acreditando que esse julgamento seria aceito pelos habitantes das ilhas. Um acordo de laços comerciais entre o arquipélago e o continente foi alcançado em 1971 e, consequentemente, a Argentina construiu uma base aérea temporária em Stanley em 1972. Entretanto, os habitantes ficaram insatisfeitos, como expresso em seu forte lobby no Parlamento britânico, e as tensões entre o Reino Unido e a Argentina efetivamente limitaram as negociações sobre a soberania até 1977.
(O praticamente inevitável: o Reino Unido e a Argentina em guerra armada)
Preocupado com os gastos de manter as Ilhas Falkland em uma era de corte de gastos, o Reino Unido novamente pensou em transferir a soberania para a Argentina no início do governo Thatcher. Conversas substantivas sobre a soberania novamente terminaram em 1981, e a disputa aumentou com o passar do tempo. Em abril de 1982, o desacordo se transformou em um conflito armado quando a Argentina invadiu as Ilhas Falkland e outros territórios britânicos no Atlântico Sul, brevemente ocupando-os até que uma força expedicionária do Reino Unido retomou os territórios em junho, no que ficou conhecido como “Guerra das Malvinas”. Após a guerra, o Reino Unido expandiu sua presença militar, construindo a Base Aérea Real Mount Pleasant e aumentando o número de suas tropas. A guerra também deixou 117 campos minados contendo aproximadamente 20 mil minas de vários tipos, incluindo anti-veículos e anti-pessoas. Devido ao alto número de mortes para desativar as minas, as tentativas iniciais de limpar as minas se encerrou em 1983.
(Ainda é possível ver essas placas pelas Ilhas Falkland)
Baseado nas recomendações de Lord Shackleton, as Ilhas Falkland se diversificaram da monocultura da lã em uma economia de turismo e, com o estabelecimento da Zona Econômica Exclusiva das Falkland, veio a pesca. A rede de estradas também foi aumentada, e a construção da base aérea permitiu que aviões maiores pousassem. Também começou a exploração do petróleo, com indicações de possíveis depósitos comercialmente viáveis na bacia das Falkland. O trabalho de desfazer as minas recomeçou em 2009, de acordo com as obrigações do Reino Unido sob o Tratado de Ottawa, e Sapper Hill Corral foi declarado livre de minas em 2012, liberando acesso a um importante marco histórico pela primeira vez em 30 anos. A Argentina e o Reino Unido reestabeleceram relações diplomáticas em 1990; as relações, entretanto, desde então se deterioraram pois nenhum dos dois países concorda sobre os termos futuros da soberania.